A prisão ocorreu devido à expedição de dois mandados
referentes aos seis primeiros casos. As outras 20 acusações de vítimas que
apontam Marcos Pereira como abusador ainda estão passando por investigações.
Na última quarta-feira, foram divulgados detalhes do
depoimento das vítimas do pastor. Segundo a jovem que foi abusada por oito anos
– período em que tinha entre 14 e 22 anos de idade – Marcos Pereira afirmou que
a prática se justificava por questões espirituais: “Estou vendo um espírito de
lésbica em você”, teria dito o pastor, de acordo com informações do jornal
Extra.
“Com o tempo, Marcos passou a trazer mulheres para
participar dos atos sexuais”, revelou a jovem, atualmente com 25 anos. Ela
afirmou ainda que “apenas uma vez se recorda que participou um garoto de
programa”, e que o pastor “Marcos tentou trazê-lo novamente”, porém ela
recusou.
De acordo com o depoimento de uma das vítimas ao jornal
Extra, o pastor organizava orgias na casa de uma irmã do traficante Marcinho VP
no bairro carioca Ricardo de Albuquerque. A ex esposa de Marcos Pereira, Ana
Madureira Silva, é uma das testemunhas de acusação.
Segundo a jovem, Marcos Pereira pedia que ela aliciasse
outras mulheres para as orgias que aconteciam numa residência que a ADUD mantém
em São João do Meriti, e em um apartamento na Avenida Atlântica, em frente a
praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, avaliado em R$ 8 milhões que
também está no nome da denominação. Ao final, o pastor fazia com que os
participantes pedissem perdão uns aos outros e guardassem segredo.
Entre as mulheres que acusam o pastor de estupro, uma
diz que aos 9 anos de idade começou a ser abusada por um assistente do pastor e
em seguida pelo próprio Marcos Pereira,que teria chegado a agredi-la e
oferecido “carros, bolsas caras, viagens para o exterior” para que ela
mantivesse relações com ele. Após recusar ir sozinha com ele para a fazenda
Vida Renovada, de propriedade da Assembléia de Deus dos Últimos Dias, ele a
teria difamado no púlpito durante um culto como forma de vingança.
Outras vítimas do pastor afirmaram terem sofrido abuso
no gabinete pastoral na sede da ADUD. Marcos Pereira atraía as mulheres para a
sala a fim de ficar a sós, e então, as convencia a fazer sexo com ele. Algumas
vezes a fiel deveria ficar orando enquanto acontecia a relação sexual. Em seu
relato, uma das fiéis disse que o pastor a convenceu a ir à sua sala pedindo
que ela levasse uma xícara de café.
“Era forçada a praticar sexo oral e tocar nas partes
íntimas”, disse outra vítima. Segundo a mulher, Marcos Pereira “tinha sempre
predileção por sexo anal”, mas quando ele tentou fazer e não conseguiu, “exigiu
que fosse feito sexo oral. Não consegui reagir. Estava aterrorizada”, disse, de
acordo com informações da Veja.
Outra mulher afirmou que Marcos Pereira ordenou a seu
marido que fosse evangelizar numa favela, e depois que o fiel saiu de casa, ele
pediu a outras fiéis que a convencessem a ir até a sede da ADUD encontrar o
pastor. Chegando no local, Pereira tinha dito que ela precisava de um “conserto
espiritual”, e assim, começaram as insinuações. A vítima afirmou que ele a
“encurralava, pegava sua mão e a passava no seu pênis”, e que depois de um
tempo, “entendeu” que deveria deixar o pastor abusá-la para evitar que “pecasse
com mulheres do mundo exterior”.
Em outro depoimento, uma das vítimas expressou o
sentimento após os abusos: “Quando ele pegou na minha mão, eu já fiquei na
minha cabeça pensando se ele estava tentando ver se tinha algum espírito em
mim, que era o que ele costumava fazer. Eu fiquei orando, ele começou aos
poucos, ele foi tocando no meu corpo. Você se sente humilhada, você se sente
nada, como se fosse um objeto descartável”, afirmou.
Em meio aos depoimentos, há relatos de que Pereira
acusava as vítimas de estarem “possuídas por demônios”, e que os atos sexuais
seriam uma forma de “purificação” e “salvação”. Uma das mulheres, acompanhada
pela filha mais velha, afirmou temer pela família: “Saímos de lá [da igreja],
mas não deixamos de acreditar em Deus. Não sou só eu, não sou sozinha. A gente
tem filhos, família e fica com medo. A gente é uma formiguinha na frente de um
batalhão [...] Tem coisas que é muito complicado falar, mas eu resolvi
denunciar para que isso sirva de alerta e outras mulheres não sofram com isso”.
Abortos
Em mais de um depoimento, as vítimas afirmaram que
Marcos Pereira não usava preservativos, e que, quando necessário, contava com
os serviços de um médico particular para a realização de abortos.
Violência
O delegado Márcio Mendonça, responsável pela Delegacia
de Combate às Drogas (DCOD) onde Marcos Pereira foi preso, afirmou que em
determinadas ocasiões, o pastor usava violência para convencer as vítimas.
“Ele tem uma oratória fantástica e abusava de fiéis que
trabalhavam como voluntários da igreja. Usava o poder do convencimento. Quando
não dava certo, ele usava a força bruta. Jogava a mulher na cama e atacava”,
disse o delegado.
Segundo Márcio Mendonça, “ele fazia com que as mulheres
se sentissem culpadas, possuídas pelo demônio. Ele se aproveitava da fraqueza
da pessoa, mas em pelo menos dois casos agiu com violência”.
A polícia considera as acusações contra Marcos Pereira
sólidas: “Não há novidade no meio policial que ele praticava essas orgias. A
polícia pede para que essas vítimas denunciem o pastor Marcos. Liguem para a
DCOD através do número 2332-1790”, disse o delegado Márcio Mendonça.
Hábeas Corpus
O advogado responsável pela defesa do pastor, Marcelo
Patrício, afirmou que Pereira está “sereno” e “tranquilo”, por se considerar
inocente.
“É uma covardia o que está sendo feito com o pastor. É
tudo mentira. Isso é invenção de pessoas que não gostam dele. Duas pessoas
foram forçadas a fazerem isso [acusá-lo]. Uma menor fez um exame no IML
[Instituto Médico Legal], que comprovou que ela é virgem. Ele é uma pessoa
muito boa, nunca ameaçou ninguém”, disse o advogado, que deverá fazer um pedido
de habeas corpus nesta quinta-feira, visando a libertação para que o pastor
responda ao processo em liberdade, até o julgamento.
Outros crimes
O pastor Marcos Pereira também está sendo investigado
por outros crimes, e enfrenta acusações de homicídio, associação ao tráfico de
drogas e lavagem de dinheiro.
De acordo com o G1, até agora trinta pessoas prestaram
depoimento contra Pereira. Um rapaz tido como ex-braço direito do pastor, numa
ocasião Pereira o obrigou a guardar mochilas com a quantia de R$ 400 mil em sua
residência.
A lavagem de dinheiro usaria a venda de CDs e DVDs como
forma de legalizar o dinheiro obtido com o tráfico. “O pastor dizia aos membros
da sua congregação que estava vendendo os CDs para evangelização e não pegando
o dinheiro com o tráfico”, afirmou uma das vítimas, no depoimento prestado à
polícia, segundo o Uol.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+
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